O uso de serviços de envio de mensagens instantâneas nos condomínios tem trazidos benefícios e problemas. Saiba como agir em cada caso.
João é síndico há muitos anos. Onde mora, resolveu inovar, levar seu condomínio à era da modernidade. Para isso, criou um grupo de moradores num desses aplicados de troca de mensagens instantânea. No começo foi tudo ótimo. Com o passar do tempo, porém, a situação mudou. Correntes, vídeos pessoais, posicionamentos político-partidários, uso de palavras de baixo calão, falta de respeito entre os membros do grupo. Tudo isso foi contribuindo para que a ferramenta que prometia ser a solução de todos os problemas virasse o pesadelo do condomínio.
A história de João é fictícia, mas situações similares ocorrem todos os dias nos condomínios do Distrito Federal. Nesses casos, o grande motivo para o grupo perder sua eficiência é a falta de foco. De acordo com o professor Marcelo Minutti, coordenador do curso de MBA em Marketing e Comunicação Digital do Iesb, é preciso refletir na eficácia desses grupos. “Existe uma tendência de as pessoas focarem sua energia e sua atenção em poucos grupos. Se você não tiver algo realmente organizado, não será um grupo eficaz, porque as pessoas ficam saturadas de mensagens.”
Para evitar esse tipo de problema, um condomínio no Colorado avaliou a situação e decidiu que um grupo com muitas pessoas não funcionaria. O síndico do Local, Carlos Henrique Dutra, conta que são 568 moradores e que a melhor forma de estabelecer a comunicação entre eles é o uso de uma lista de distribuição, criada dentro desses aplicativos de trocas de mensagem. “Atualmente, quase todas as solicitações chegam por mensagens instantâneas. Além disso, iniciamos agora o uso de pesquisas online.” O aplicativo se tornou praticamente a ferramenta oficial de comunicação em seu condomínio.
Com o uso da nova tecnologia, o síndico afirma que houve uma mudança significativa na interação com os moradores. Houve também benefícios para os condôminos e o próprio condomínio. Entre as vantagens, pode-se citar o baixo custo da comunicação, a rapidez na divulgação de informações e a garantia de que a informação foi encaminhada e de que o morador a recebeu e leu. Além disso, essa forma de se comunicar promove a aproximação com os moradores mais jovens.
Além do uso entre moradores, muitos síndicos estão buscando grupos para trocas de experiências com gestores condominiais. Gabriel Lontra é administrador de um desses grupos. Criado em 2015, o Síndicos de Brasília tem como desafio ser composto apenas por síndicos. ”O grupo surgiu com o propósito de ser o primeiro ou talvez único grupo de síndicos que não tem fins políticos, comerciais, enfim, com foco exclusivamente no conhecimento”, afirma Gabriel.
Dentre as situações retratadas no grupo, Gabriel afirma que a mais frequente é o síndico que está passando por algum problema, principalmente de relacionamento com os condôminos. A alma dos grupos é a troca de experiências.
Para o presidente do Sindicondomínio-DF, José Geraldo Dias Pimentel, o uso de novas ferramentas e tecnologias de comunicação são benéficas aos condomínios, desde que usadas com parcimônia e cuidado, respeitando a privacidade de cada morador.
Confira a entrevista com o professor Marcelo Minutti, coordenador do curso de MBA em Marketing e Comunicação Digital do Iesb, sobre o uso de grupos de troca de mensagens:
Como evitar que esse tipo de relação traga mais benefícios que problemas?
A regra que a gente usa nesses serviços é a mesma usada em qualquer tipo de grupo, até nos de email. Quando se cria um grupo, é precisa criar também seu termo de uso, principalmente para os grupos que não são ligados a amigos. Essa política de uso tem que ser enviada a todos que são incluídos. Além disso, é bom que se tenha um moderador. É ele que vai dar alertas às pessoas que não estão cumprindo os termos de uso, e isso poderá acarretar de advertências até expulsão do grupo, de acordo com o que está estabelecido nos termos de uso. É importante que todo mundo que for colocado no grupo tenha consciência e tenha sido informado das regras. Sem isso, com certeza será difícil cobrar das pessoas um determinado comportamento já que não foram informados do que se era esperado delas.
É possível estabelecer uma etiqueta de uso nos grupos de trocas de mensagem?
A etiqueta é a mesma que a gente usa fora do mundo digital e depende muito da situação. Por exemplo, num grupo de amigos da faculdade, você tem muito mais liberdade do que teria num grupo do trabalho e isso tem que ser respeitado. É preciso refletir sobre qual conteúdo a ser postado em cada grupo, de acordo com seus objetivos. Outro ponto importantíssimo está no fato de se colocar uma pessoa num grupo sem avisá-la, principalmente quando o grupo é composto por pessoas desconhecidas. Isso é um problema de etiqueta gravíssimo, inserir pessoas em grupos de desconhecidos, de pessoas com que não tem intimidade.
Mas nem tudo são problemas, certo?
Desde que se mantenha em seu objetivo, esse tipo de comunicação tem benefícios. Se existe uma saturação de mensagens e a pessoa começa a ver que são informações que não interessam a ela e o grupo cai em desuso. A pessoa pode até não sair do grupo, mas o silencia por um ano, e aí não adianta, porque o objetivo do grupo, que era informar pessoas sobre determinados assuntos, não é alcançado.
Como criar um grupo de trocas de mensagens eficiente dentro do condomínio?
A criação desses grupos de condomínio primeiro deveriam ser conversados em assembleia. Após esse procedimento, passar a construir a política de uso, aprová-la com todo mundo, passar uma ficha em que a pessoas preencham permitindo que sejam incluídas naquele grupo, respeitando as regras do termo de uso, para só então ser criado.
[Assessoria de Comunicação
Presidência
Sindicondomínio-DF]