Na 14° edição da série de entrevistas intitulada de BATE-PAPO COM SINDICO, conversamos com o Bacharel em Relações Internacionais pela UnB, com MBA em Marketing pela FGV, atuando também como Corretor de Imóveis, e Síndico no Centro Clínico Sudoeste em Brasília-DFMarcelo Caus Sicoli, veja abaixo as respostas desse síndico campeão ao nosso portal

1-) Porque decidiu ser Síndico? 

O prédio foi inaugurado em 2003, e está localizado em um dos bairros mais nobres do Distrito Federal: o Setor Sudoeste. Diferente do que muitos pensam, é um condomínio. Ou seja, com assembleias regulares e administrado por um(a) síndico(a) eleito(a) . Não há um dono único ou acionista majoritário. Em julho 2018 completarei seis anos no cargo. Meu pai é médico e advogado, por isso somos donos de uma sala. 

Em 2012, triste com o visível abandono do edifício, abracei o desafio de implementar novas práticas de gestão e catapultar nosso padrão de qualidade por meio do papel de síndico, contando sempre com o importante auxílio do conselho consultivo. 

De 2014, para cá no entanto, administro praticamente sozinho o prédio. 

2-) Como conciliar suas atividades, mais a de Síndico? 

Desde o fim da minha graduação em 2000 em relações internacionais na UnB que faço consultoria pra empresas internacionais. Há cinco anos sou corretor de imóveis também. A atividade de corretagem tem grande interface e sinergia com o segmento de administração predial e de condomínios. Já fui funcionário público. Nos dois últimos anos acabei sendo consumido pelo condomínio(e vejam que só administro um ÚNICO prédio) e diminui muito o ritmo e energia destinada a nobre área de consultoria para empresas e governos estrangeiros. Meu website: www.enterbrazil.com

3-) Como é ser Síndico? 

Cabe ressaltar que conflitos, discussões e desentendimentos fazem parte da vida de todo condomínio. A instituição normalmente é lembrada principalmente para canalização de reclamações ou quando algo está errado. Aos poucos, conseguimos mudar este fator cultural e receber o apoio dos condôminos. Frisamos que críticas construtivas são bem-vindas, mas que elogiar, identificar as mudanças positivas e comentá-las torna a vida em condomínio mais saudável para todos. Motiva os funcionários, clientes e vizinhos. 

Diariamente, vejo que decisões pequenas ou grandes do síndico podem afetar diretamente a vida de toda uma coletividade. A solidão é uma constante, no entanto. Ser síndico demanda conhecimentos tão variados como: engenharia civil, contabilidade, direito, gestão de pessoas, administração, jardinagem, gestão imobiliária, oratória etc. É preciso saber um pouco de tudo. 

Nestes últimos anos, realizamos expressivas melhorias como compra de um gerador de energia em 2015 que atende 100% do prédio (já o usamos por cinco vezes em condições reais!!), sistema de irrigação, construção de vagas externas de garagem, por exemplo. 

O mais grandioso projeto até agora diz respeito à troca de mais de 918 m2 de um já corroído policarbonato do pátio central por lona tensionada no primeiro semestre de 2017. Sete toneladas de metal foram removidos e encaminhados para reciclagem. Com os recortes da lona, ao invés de incineração, optou-se por contratar a cooperativa de artesãos do Distrito Federal para confecção de lindas bolsas promocionais do edifício. 

Em conexão com o feito, ganhamos o prêmio “Ser Humano Brasília 2017” da ABRH (Associação Brasileira de Recursos Humanos) em cerimônia realizada no dia 18 de outubro de 2017. A premiação tem como objetivo reconhecer, disseminar e premiar boas práticas e bons trabalhos acadêmicos que visam a gestão e o desenvolvimento de pessoas no ambiente de trabalho, bem como a responsabilidade social corporativa e o desenvolvimento sustentável. Também, fomos finalistas em evento mundial de demolição (World Demolition Summit) na categoria: “Reciclagem e Meio Ambiente”. A premiação aconteceu em 2 de novembro de 2017 em Londres, quando tive oportunidade de rever a vibrante cidade inglesa após quase 20 anos. Há muitas obras em andamento lá e uma interessante fusão de construções antigas e prédios internacionalmente conhecidos pela ousadia e modernidade de seu design como: o “the shard”, a “O2 arena” ou “the gherkin” .

No mesmo dia, por coincidência, fomos para a final na categoria: “Best Resources Project by Facilities Management Award” (melhor gestão de recursos em administração predial) em evento organizado pela CIWM , instituição britânica ligada ao tratamento de resíduos em geral. Desta vez, fomos agraciados com um histórico prêmio e um belo troféu!

Fechando o ano, em 7 de dezembro, durante o 3° ENBRASSP em Goiânia, fui o único síndico do Brasil a ganhar o Prêmio Master Síndico 2017, da ABRASSP –  Associação Brasileira de Síndicos e Síndicos Profissionais. 

Uma administração de qualidade, seja pela crescente figura dos síndicos profissionais ou de um síndico orgânico como eu, pode trazer projeção nacional e internacional. De Brasília para o mundo, por que não? 

4-) Quando assumiu quais os problemas encontrados? 

Era inexperiente e a grandiosidade dos problemas jurídicos, financeiros e administrativos eram muito maiores do que eu imaginava. Nos primeiros dias, já nos deparamos com uma expressiva dívida acumulada. E nas primeiras semanas, tivemos urgência em realizar obras que lidavam com a estrutura do prédio (telhado e cobertura) e que tinham caráter essencial para a continuidade de nossas atividades. Juntos, passamos pelo ano mais difícil da história de nosso condomínio. Conduzimos esta agenda emergencial, juntamente com a execução de centenas de melhorias visíveis. 

O levantamento da lista de e-mails e telefones de todos proprietários/inquilinos colaborou para uma veloz comunicação e economia de papel. Nosso sistema de câmeras, há tempos sem manutenção, foi renovado e ampliado (partes externas, pátio central, cobertura, telhado e garagem). Comandamos expressiva obra com duração de 8 meses para reparar vazamentos nas salas, aliada a troca de telhas em trechos sensíveis. 

Buscando receitas extras, instalamos três quiosques nas amplas áreas comuns, propiciando também novas alternativas de lazer e compras. Além disso, realizou-se a conversão de áreas não utilizadas em 10 vagas de garagem e o aluguel de depósitos e espaços para publicidade. Com isso, passamos a ter expressiva arrecadação adicional. Nove telas com publicidade conferiram modernidade e dinamismo ao edifício. Ademais, pintamos muros pichados e recuperamos diversas paredes e áreas internas. Também renovamos nosso site e criamos página no Facebook, isto tudo em único ano (julho 2012 a julho 2013). 

Aumentamos com custo baixíssimo o conforto da copa utilizada pelos funcionários das clínicas e do condomínio, por meio da compra de uma mesa extra, do uso de cadeiras que já tínhamos e ficavam guardadas, da compra de mais um microondas, talheres e pratos. Finalmente, eliminamos as insistentes baratas da copa. Além disso, fizemos importante reorganização e embelezamento do pátio central e passamos a posicionar containers de entulho na parte traseira do prédio, liberando vagas externas, diminuindo a poluição visual e evitando o trânsito de veículos pesados. 

Nossos funcionários passaram a trabalhar com uniformes com o logotipo do prédio. Foi feita uma importantíssima e acertada aposta de promover o talentoso “Tião” da faxina em funcionário em tempo integral. Atualmente ele se dedica a atividades como manutenção elétrica, hidráulica e pintura. É inimaginável que ficamos tantos anos sem esta figura. Criamos um acervo de obras de artes com peças doadas por artistas locais. Retomamos a reciclagem de latas e papéis, trazendo benefício ambiental e renda para os funcionários. Efetuamos também a remoção de 17 postes sem utilidade, conferindo aspecto clean e diminuindo a sobrecarga na rede elétrica e sua consequente manutenção. 

5-) O que representava o maior problema? 

Temos área de garagem com mais de 150 vagas paradas desde 2010 devido a litígios judiciais com a Construtora. Felizmente, nesta longa e cansativa maratona, que parece que está chegando ao fim, o judiciário brasileiro tem reconhecido o direito do condomínio em cobrar as dividas de condomínio que hoje já superam a casa dos milhões de reais. 

A solidão na tomada de decisões e o desinteresse da maioria dos condôminos é uma marca forte. Apesar do belo trabalho desenvolvido, surgiu uma minoria inexpressiva barulhenta e com críticas vazias e sem fundamento sobre alguns aspectos pontuais. Por ser um prédio 100% ligado à área de saúde, não temos uma massa crítica formada para tomada de várias decisões que envolvem conhecimento jurídico, contábil e especialmente de obras e reformas. 

Em 2018, nosso desafio é renovar todo o sistema de detecção de fumaça e incêndio do prédio.. Já compramos equipamentos da empresa ILUMAC de Bauru (SP) e contratamos empresa brasiliense para instalação(Firemaster). 

A regularização jurídica e várias intervenções em obras necessárias para liberar para uso/venda a área de garagem (150 vagas) abandonada pela Construtora serão um grande desafio para  2019. 

Nos próximos 8 anos, devemos executar etapas de projeto de arquitetura feito em 2016, que orientará a renovação do prédio como um todo. 

6-) Deixe uma mensagem de otimismo para os seus colegas Síndicos? 

“Reconhecimento do público é baixo. A maior gratificação é a pessoal. Ver que algo estava errado, estragado, quebrado e obsoleto e ter a possibilidade/obrigação de melhorar, mudar, reformar, evoluir ou comprar.” 

“Busque qualificação! Hoje há com frequência palestras, publicações e cursos muitas vezes gratuitos”. 

Portal Cidades e Condomínios por Jornalista Paulo Melo 61 98225-4660 Sugestão de pauta: cidadesecondominios@gmail.com 

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